quinta-feira, 1 de dezembro de 2016

Relato de Parto

Júlia veio ao mundo para derrubar muitos mitos do parto normal: Sobrepeso, Diabetes Gestacional, Cesárea Prévia, nada disso impediu um maravilhoso Parto Natural e na água! E depois que nasceu, mais um mito derrubado: Ela estava com TRÊS circulares de cordão no pescoço. Sabe o que isso quer dizer? Nada! O bebê não respira pela garganta, quem leva oxigênio para o bebê é o próprio cordão, e ele é gelatinoso suficiente para não apertar.
São milhares de mitos que cresceram em torno do parto natural, e a única maneira de derruba-los é nos informando e procurando profissionais humanizados para nos acompanhar, sempre levando em conta evidências científicas, proporcionando uma gestação e parto mais saudáveis para mãe e filho

O primeiro passo foi acreditar em mim, em meu corpo e na natureza.
Agora quero compartilhar um pouco de como foi o dia mais intenso da minha vida. Não é um relato como imaginei que seria... Não foi calmo e romântico como eu pensei. Foi rápido e muito intenso. Mas foi o meu parto, meu momento e pra mim, foi perfeito.


Os Primeiros Sinais

Na quinta-feira (24/11/2016) tive consulta com minha obstetra, Dra Maria das Dores. Como estava com Diabetes Gestacional, não poderia esperar muito depois das 40 semanas, que completaria domingo. Conversamos sobre uma possível indução, se caso a Júlia não resolvesse aparecer até segunda-feira.
O tampão mucoso começou a sair ainda na quinta-feira, mas eu sabia que mesmo com o tampão saindo, ainda podia demorar semanas. O tampão é uma espécie de "rolha" que fecha o colo do útero. É um dos sinais que o trabalho de parto está próximo, mas pode sair com algumas semanas de antecedência, então não é um sinal "alarmante".
Na madrugada da sexta (25/11/2016) para o sábado (26/11/2016) eu estava com muita insônia e resolvi escrever meu "Relato de Gestação" aqui no blog, pois já estava achando que o de parto demoraria pra chegar. Mal sabia que dali a poucas horas a maior aventura da minha vida estava prestes a acontecer.
Fui dormir lá pelas 3h da manhã no sábado. Duas horinhas de sono depois, vem o primeiro sinal: uma cólica leve. Levantei, fui ao banheiro, percebi mais tampão saindo, transparente e em pouca quantidade... voltei para a cama. 
Eu estava na casa da minha sogra e, nesse dia, Guilherme, meu esposo, dormia no quarto ao lado e eu dormia com Gabriel, meu filho de 8 anos. 
Uma hora depois, outra cólica, dessa vez um pouco mais intensa. Fui ao banheiro novamente, e depois continuei deitada. Alguns minutos depois, mais uma, dessa vez eu gemi de dor. Gabriel acordou e perguntou se era a barriga que tava doendo, eu disse que sim e ele foi chamar o pai. Guilherme veio, perguntou se tava tudo bem, e eu falei das cólicas, ele disse pra avisar logo às enfermeiras, e assim eu fiz. Ficamos logo acordados, tomei uma caneca de farinha láctea, que eu acordei desejando... hehe E depois de conversar com a EO (Enfermeira Obstetra) Simone, decidi ir para a piscina. Foi a hora em que as cólicas deram uma pausa. Fiquei brincando na piscina com Gabriel e Clarinha (sobrinha), e depois voltamos pra casa. 



Ajeitei as malas, pois queria ir logo pra casa, eu já sabia que o dia tinha chegado. Já era hora do almoço e eu comi muito pouco. Eu já tinha lido e relido sobre isso, eu sabia que podia comer normalmente, e que eu devia comer normalmente, pois precisava de força para encarar o trabalho de parto. Mas não sei o que me deu, eu comi muito pouco (e me arrependi, mais na frente eu explico).

A Bolsa Estourou

Sempre me comunicando com a EO, resolvi tentar descansar um pouco depois do almoço e fui deitar. As cólicas vinham e voltavam, mas eu ainda consegui cochilar... então o telefone tocou e eu levei um susto! Pulei da cama e veio uma cólica muito forte, não consegui nem atender. Corri pro banheiro e saiu mais tampão, dessa vez com sangue. Avisei pra EO Simone e voltei para a cama. Pouco tempo depois senti algo vindo... Era como se fosse o xixi vindo sem que eu conseguisse controlar. Mais um pulo da cama pro banheiro e quando cheguei lá, um líquido transparente escorreu pelas minhas pernas, em pouca quantidade. 
"A bolsa estourou!", eu pensei. Avisei pra EO Simone, mandei mensagem no grupo Gestantes Poderosas, avisei pra minha mãe, e conversei com a Iuli (que ia filmar o parto), a Talita (que ia filmar o trabalho de parto) e a Karla (que tava fazendo a ponte entre eu e uma fotografa que se ofereceu pra fazer as fotos do parto). Todo mundo avisado, chamei Guilherme e Gabriel para irmos para o nosso apartamento esperar a EO Simone por lá.
Chegamos ao apartamento, as cólicas iam aumentando a intensidade, mas eu ainda conseguia conversar. 

No whatsapp enquanto eu ainda conseguia kkkkk

Eu tinha separado uma playlist com músicas para todo o processo, desde os primeiros exercícios ainda em casa, até a hora que a Júlia nascesse. Na verdade, eu tinha planejado muita coisa: Música, exercício, fotos, disse no grupo Gestantes Poderosas que iria contando cada detalhe do que eu tava sentindo durante todo o processo, para elas acompanharem em tempo real. A realidade: não consegui fazer nada! haha
A essa altura eu ainda conseguia colocar uma coisa e outra no grupo, mas já não queria saber de me mexer. Sempre que me mexia vinha uma contração. A dor já era enorme! Eu só queria não sentir mais nada, então, ao contrário do que eu havia planejado, eu me mexia o mínimo possível, pois queria passar o maior tempo que conseguisse sem sentir dor.
Às 15h a EO Simone chegou. As 15:30h fizemos um toque: 2 cm de dilatação. A dor já estava daquele jeito e eu ainda nem estava em trabalho de parto ativo! Ow sofrimento! hehe

Eu esmagando a mão da Simone e ela com essa carinha serena... É uma anja mesmo! kkkk
Com esse exame ela percebeu que a bolsa ainda estava lá, não havia rompido. Mais tarde ela rompeu de verdade: uma enxurrada de água! E depois ficava toda hora vindo mais e mais água... Era muita água! hehe

A Dor

Eu tinha me preparado pra dor. Eu sabia que ela era grande. Mas eu esperava também que iria ter intervalos entre uma dor e outra... era assim que eu lia e via em todos os relatos e videos. "Existe vida entre uma contração e outra". Não nas minhas! Era uma atrás da outra, atrás da outra, atrás da outra... A Simone tentava me encorajar a levantar, fazer exercício, Guilherme sempre do meu lado me encorajando também, mas eu só queria brincar de "estátua" haha... Quanto menos eu me mexia, menos dor eu sentia, então podia respirar alguns segundos. 

Eu já nem lembrava que tinha celular, não avisei mais nada a ninguém, ou seja: Não teve fotografa, nem ninguém filmando...hehe Eu continuava sem querer ouvir música, já não sorria mais pras frases doces e brincadeiras da Simone... Comecei a me fechar em meu mundo e ficar ali, só eu e minha dor.
A um certo ponto minha mãe e minha irmã chegaram, e eu ouvia a voz delas longe. De vez em quando percebia o olhar do meu filho, preocupado, e depois soube que ele até chorou de preocupação, tadinho. Mas a Simone e o pai dele conversaram com ele, explicaram que jaja ia passar e que a irmãzinha dele estava chegando, então ele se acalmou mais.
Eu comecei a sentir uma fraqueza muito grande. Lembra que eu disse que só tinha tomado uma xícara de farinha láctea e um pouquinho de almoço? Pois é. Eu devia ter comido mais enquanto eu conseguia... Já era quase de noite e eu não conseguia comer mais nada e ainda vomitei o pouco que eu tinha comido.
Isso fez a dor ficar ainda pior, pois eu sentia como se eu não tivesse força o suficiente pra aguenta-la. Então eu fiz mais uma coisa que eu tinha me preparado para não fazer: comecei a sentir a dor como sofrimento. Sim... Eu sempre disse (e ainda acredito) que a dor não precisa ser sofrimento. Mas, eu caí nessa, e acredito que se eu tivesse um pouquinho mais forte, eu teria encarado a dor de outra forma e não teria sofrido tanto. Então, quando você perceber que chegou o dia: coma! Se alimente e fique forte o suficiente para aguentar as próximas horas.



Tentaram me dar um chocolate, que até então era um dos meus preferidos, eu mordi, quis vomitar, fui tentar beber água e me engasguei, tossi, veio outra contração... kkkkk Pouco tempo depois, ainda com o gosto do chocolate na boca e com medo de beber mais água e me engasgar de novo, eu gritava que aquele era o pior chocolate do mundo! kkkkk
Pra piorar, ainda tive uma crise de soluço. Olha... Não foi fácil! 

O Trabalho de Parto Ativo

Por volta das 18h resolvemos fazer mais um toque: 4cm de dilatação. Confesso que foi meio decepcionante... No ritmo que as contrações estavam vindo e a dor que eu tava sentindo, achava que já ia estar pelo menos em 7cm... Mas tudo bem. 4cm significava início da fase ativa de trabalho de parto, já era um avanço.
O apoio e carinho do meu esposo foi fundamental. Ele ficou o tempo inteiro comigo e sabia exatamente quando eu queria carinho, quando eu não queria, o que fazer e o que falar. Ele viveu o trabalho de parto junto comigo, em sintonia, e foi o que me deu forças pra continuar.
Era uma contração atrás da outra. Guilherme me convenceu a ir para o chuveiro, e eu tive alguns minutos de alívio. Guilherme foi o meu melhor "anestésico". Apesar de toda calma e carinho da EO Simone, eu só conseguia alguns segundos de calma com ele.


A Simone já tinha pedido pra Márcia trazer uma piscina inflável, pra tentar um banho quente, mas ao perceber que eu não estava aceitando nada, desistiu.
Cada vez mais eu me trancava em meu mundo. E eu já não tentava mais controlar minha fala, o que vinha na cabeça eu falava! E chorava, e gritava, e dizia que não ia conseguir... 
Eu não entrei na "partolândia", pelo contrário, eu tava MUITO consciente, até mais do que eu devia. Eu sentia cada contração, eu ouvia cada voz, eu sentia cada cheiro, eu percebia o suor de preocupação do meu esposo, apesar dele sempre tentar o máximo possível pra transparecer calmo e me passar força, o olhar também preocupado do meu filho, a decepção da minha irmã quando ela entrou no quarto e tentou falar alguma coisa pra me acalmar e eu mandei ela sair, o nervosismo da minha mãe que sorria o tempo todo (e eu sabia que era de nervoso hehe), a Simone que já estava meio que sem opções sobre o que fazer, pois até quando ela vinha examinar o bebê com o sonar, eu não queria... enfim, eu estava ultra consciente, e acho que foi mais um motivo pra eu sentir tanta dor. 



Na Maternidade

Decidimos ir para a maternidade. Depois eu soube que a Simone tentou me segurar o máximo de tempo em casa (ainda bem!), pois ela achava que se eu chegasse muito cedo na maternidade eu ia acabar implorando por uma cesárea. Olha, talvez eu implorasse por muita coisa, mas cesárea não! Eu já passei por uma cesárea e sabia como era, então isso não passou pela minha cabeça. Mesmo quando eu dizia que não ia conseguir, que não aguentava mais, quando eu pedia desculpas por estar sendo fraca... Eu pensava em tudo, menos em cesárea. Na verdade, quando eu dizia que queria desistir eu pensava mais em simplesmente me deitar e dormir do que em fazer uma cirurgia.. kkkk Não faz muito sentido, mas vai entender o que se passa na cabeça da gente uma hora dessas, né? Mas ainda bem que tínhamos a Simone com a gente, para ficar sempre monitorando se estava tudo bem comigo e com a Júlia, para irmos para a maternidade apenas no momento ideal. 
Chegamos na maternidade por volta das 20:15h... Direto pra sala de parto humanizado. 
Enquanto a banheira enchia, Simone me levou pro chuveiro com água morna. 


Só pra variar, eu também não quis água morna. Topei ficar agachando sempre que vinha a contração, e assim eu fazia. Ela ligou o celular dela e botou uma das músicas que estava em minha playlist, "One Step Closer", deixou o banheiro com a luz bem baixa, e saiu. Guilherme entrou e a primeira coisa que eu disse foi "Desliga esse sooooooooom!" kkkkkkk Eu tava muito chata, meu Deus do céu. Nunca pensei que eu não ia querer música... Música é uma das coisas que mais me acalmam, então era certeza que eu ia querer ouvir música. Só imaginava Júlia nascendo ao som de "Who Run The World". Mas eu não quis nada... mal queria ouvir a voz das pessoas, imagina música.
Foi só tempo da banheira encher, minha mãe saiu da sala de parto e levou meu filho, eles preferiram não assistir, e foi melhor assim. Ficamos eu, a EO Simone, Guilherme e a Dra Das Dores. E eu fui pra banheira, esperando que a água morna me acalmasse. Doce ilusão... kkkkk 
Eu não achava posição na banheira, não me sentia confortável, e quando menos esperava "mais uma contração, por que?!", "Chega de contração, não, eu não quero mais!". Isso escrito parece até sereno e tranquilo, mas eu gritava de um jeito que a maternidade inteira ouvia. 
"Ta saindo, Dra!!!!", ela fez um toque: 8cm de dilatação. Me aconselhou a ficar de joelhos quando a contração viesse. Orientou Guilherme a entrar na banheira, mas ele leu meus pensamentos e não entrou. Eu não estava confortável, se ele entrasse era capaz de eu dar um chute pra ele sair. kkkkkkkkkkk
Mais uma contração. Um murro na banheira. "Puta merda, que dor! Pra que tanta dor???".
Mais uma contração. E a primeira vez que eu pedia uma intervenção: "Eu quero anestesiaaaaaaaaaaaaa!". A Dra explicou que teríamos que ir até o centro cirúrgico para aplicar a anestesia. Eu não queria anestesia... Eu só queria gritar mesmo! haha Claro que não fui. Continuei na banheira e poucos minutos depois...

"Ta saindo!!!! Não vai sair! Meu DEEEEEUUUUUSSS!!!!!"

Saiu a cabeça! 

"Tira ela Dra!!! Tira tira tira tira!"

E a Dra com toda sua tranquilidade..."Calma Jéssica... Mais um pouquinho de força e ela sai"

E saiu! 



"EU CONSEGUI!!!!!!!"

Não foi fácil, não foi romântico, não foi tranquilo. Mas foi lindo! 

Ai... Eu choro só de lembrar. Que sentimento maravilhoso! 

E então, todas as dores sumiram, todos os medos, a fraqueza, o desespero, tudo foi embora. Minha filha estava no meu colo, quentinha, linda, saudável. O choro foi a música mais linda que já ouvi! E eu que até então estava presa em meu mundo, e só sabia gritar de dor, agora queria que todos vissem minha linda, minha pequena, meu amor. Tão pequena! 

A cara de satisfação da pessoa... nem parece que tava gritando de dor. hehe

Júlia nasceu com 2,920kg, com 3 circulares de cordão no pescoço, apgar 8/10, com 39 semanas e 6 dias, às 21:17h do sábado, dia 26 de novembro de 2016. O papai Guilherme, sempre presente e participativo em todos os momentos, cortou o cordão umbilical e deu as boas vindas a nossa pequena, que foi diretamente para o meu colo e mamou já na primeira hora de vida.



Eu tenho muito a agradecer a equipe Materluz, pois agora, mais do que nunca, eu sei o quanto faz diferença ter profissionais humanizados ao nosso lado nesse momento. A todas as enfermeiras da Materluz: Bruna, Márcia, Marcleide e em especial a Simone, quero agradecer por todos os momentos, todas as dúvidas tiradas, todos os momentos de apoio, de conselhos, de conversas. Vocês são anjos! Muito obrigada mesmo! (Simone, desculpa pelos beliscões, você deve estar toda roxa! kkkkk).

Tem pessoa mais meiga no mundo? Simone, obrigada por tudo!

Agradecer a Dra Maria das Dores, por ser essa mulher tão incrível e por ter a humildade de me deixar ser protagonista do meu parto. Desejo ao mundo que muitos outros médicos sejam como você, pois nós mulheres merecemos! 


Agradecer a todas as meninas do grupo Gestantes Poderosas, pelo apoio, pelas mensagens positivas, por tudo! Esse rede de apoio foi fundamental na minha caminhada rumo a essa conquista. E a todos que me acompanharam, torceram por mim e desejaram coisas boas.
E, enfim, dizer ao meu esposo que ele foi minha fortaleza, meu porto seguro, minha calmaria no meio da tempestade. Obrigada por acreditar em mim, por segurar minha mão, por me lembrar a força que eu achava que não tinha mais. Você é um homem incrível e eu tenho muito orgulho do pai maravilhoso que a Júlia tem e tenho certeza que ela já sabe o quanto você é importante e já te ama muito! Meu amor por você só aumenta a cada dia! Obrigada por tudo!



Eu renasci! 
A dor intensa não foi a toa. Eu curei todas as minhas feridas. Além do nascimento da Júlia, eu renasci, eu me renovei, e me livrei de medos e dúvidas, eu me superei e me reinventei. Eu precisava disso, e eu consegui.

Eu consegui!

Minha Júlia, com 5 dias de vida. <3