segunda-feira, 20 de fevereiro de 2017

Relato de Puerpério

Então, eu pari. Consegui meu tão sonhado parto normal humanizado na água e vivemos felizes para sempre...

Como a gente pensa que é o Puerpério
Será? kkkkkk

Não é bem assim...

Quero compartilhar com vocês a minha experiência. Como todos os relatos, é algo muito subjetivo, então o que eu vou dizer foi o que aconteceu comigo; não significa que com você vai ser igual, mas eu espero que a minha experiência possa ajudar a prepara-la para o que vem pela frente. Eu senti falta de ouvir mais sobre o puerpério. A gente se prepara tanto pro parto e acaba esquecendo que depois dele é que a aventura de verdade começa.

Como REALMENTE é kkkkkkkk (eu dormindo no sofá com Júlia no colo, não façam isso! kkkkk)
 PÓS PARTO IMEDIATO

A coisa que eu mais ouvia em relação ao pós parto imediato era que "o bebê saiu, acabou as dores". Bem, não é exatamente assim. Ainda tem a placenta pra sair, ainda tem a laceração pra costurar... Eu achava que eu ia sair da sala de parto desfilando num salto 15, pulando amarelinha, rebolando até o chão... kkkkkk 
A verdade é que eu estava bem abatida, CLARO! É normal. Eu tinha acabado de passar por um parto, um bebê tinha saído de dentro de mim... eu precisava de tempo pra me recuperar, né? Mas também nem se compara com a cesárea, que eu não podia falar, nem me mexer, nem banhar só e tava morrendo de dor... Com o parto normal, mesmo cansada e com algumas dores, eu conseguia levantar, sentar, pegar Júlia no colo, banhar sozinha, me vestir sozinha, enfim... Eu tinha liberdade =)

AS VISITAS

Na maternidade eu não quis visita. Apenas os mais intimos dos intimos... Eu precisava descansar, recuperar o folego, não estava nem um pouco agradável pra receber ninguém.
Em casa, a confusão de sentimentos começou por aí: eu não tinha vontade de ver ninguém, mas quando a visita chegava eu não queria que fosse embora. Eu não queria que ninguém viesse, mas quando vi que veio pouca gente fiquei me sentindo abandonada. 
Comecei a perceber que não ia ser nada fácil lidar com meus sentimentos.

O SENTIMENTO DE DECEPÇÃO

Eu planejei meu parto como  nunca tinha planejado nada na minha vida. Escolhi cada detalhe de como seria o dia, o que eu ia fazer, como eu ia me comportar, quem ia estar comigo, o que eu ia ouvir, dizer, pensar, fazer... Sério. Tava tudo milimetricamente planejado. Mas, como da pra ver no meu Relato de Parto, não foi NADA do que eu planejei. Desde o momento do trabalho de parto, quando eu chorava e reclamava das dores e não conseguia ficar feliz em senti-las (como eu planejava ficar), eu ja comecei a ficar decepcionada comigo. Pedia desculpas constantemente a EO Simone e a Guilherme, pois, na minha cabeça, eu estava decepcionando eles. Eu não aceitava o fato de estar reclamando por uma coisa que eu sempre desejei e esperei tanto que acontecesse.
Então, depois do parto, já em casa, a reclamação continuava. Eu reclamava do incomodo da laceração, da dor da amamentação, do sono, da falta de tempo... Ai quando tinha um momento sem reclamar, eu chorava de decepção por estar reclamando tanto ao invés de estar agradecida por ter dado tudo certo. Foi assim por um bom tempo: uma decepção sem fim, eu estava triste e decepcionada comigo mesma. Eu me sentia a pessoa mais fraca do mundo.

AMAMENTAÇÃO

A grande e temida AMAMENTAÇÃO. Não consegui amamentar meu primeiro filho por não estar preparada para a dor da amamentação, então dessa vez eu me preparei psicologicamente para sentir essa dor. Mas a preparação não diminui a dor né? Doeu MUITO. Meu peito estava enorme, cheio de leite, estava quente, ferido, dolorido... Júlia até pegava bem, mas como o peito estava grande e pesado, atrapalhava muito. Chorei, sofri, me desesperei, pensei em desistir mil vezes... E ainda não tinha chegado nem ao 5º dia. Resolvi chamar a Duduca, especialista em amamentação. Ela veio, avaliou, conversou, me explicou, me deu dicas de como amenizar a dor. Bem, o peito não parou de doer milagrosamente só porque a Duduca olhou pra ele (era o que eu esperava kkkkk), mas segui as dicas dela e de outras mães que ja tinham passado dessa fase e resolvi esperar. Eu não podia desistir, eu queria mais que tudo alimentar minha filha com o leite que meu corpo produziu especialmente pra ela. Eu desisti de lutar contra a dor e me entreguei: se a dor quisesse que desiste por causa de mim, porque eu não ia desistir por causa dela. Fiz uma breve pesquisa de quanto tempo mais ou menos as mães sentem dor ao amamentar, descobri que a média era 15 dias e acrescentei uns dias a mais. A partir daí, quando sentia dor, eu contava "menos um dia de dor", até que finalmente parei de sentir dor e sentia só o prazer de ter conseguido vencer mais essa batalha!

MEDO, SONO, CANSAÇO

Eu não lembrava o quanto era difícil ter um recém nascido em casa. No meu primeiro filho foi bem diferente: eu morava com minha mãe, não precisava me preocupar em ajeitar casa, tinha uma babá pra Gabriel, eu não fazia muita coisa porque como tinha sido cesárea eu não conseguia fazer muita coisa. Como não amamentava, Gabriel podia ficar com qualquer outra pessoa pra eu dormir o quanto quisesse. Enfim, tudo totalmente diferente.
Dessa vez, eu estava na minha casa, só eu, meu esposo e Júlia. Gabriel viajou assim que Júlia nasceu. Apesar de algumas dores e incômodos, eu conseguia fazer tudo sozinha. Não contratamos babá, Júlia se alimenta exclusivamente do meu peito, então tinha que estar 24h comigo. Ela mamava mais ou menos de 2 em 2 horas, ou seja, eu não dormia. Tive ajuda da minha mãe, que vinha a noite para dar um grauzinho na casa e fazer as melhores jantas da vida, ainda bem! kkkkk
Mas mesmo assim não foi fácil.
Eu tive uma laceração simples, mas os pontos incomodavam bastante, mas o maior incômodo mesmo era os seios. Eu estava dolorida, com sono, não podia tomar banhos demorados porque Júlia começava a chorar. Ela ficava praticamente o tempo inteiro no meu colo. Mas era necessário, pra mim e pra ela. A gente passou tanto tempo grudadas, não dava pra se separar assim, da noite pro dia. Eu dormia sentada no sofá. Dormia sentada na cama. Não conseguia dormir deitada... Eu dormia com um olho fechado e outro aberto, olhando pra Julia, se ela tava bem, se tava respirando. O cansaço era extremo.

CHORO

Bem, depois de contar tudo isso, acho que não é novidade se eu disser que eu era o choro em pessoa.
Eu chorava de sono, chorava cansaço, chorava de dor, de medo, chorava porque eu não conseguia parar de chorar.
Eu não me reconhecia. Olhava no espelho e era outra pessoa. Sentia meu corpo pequeno, minhas mãos pequenas, meu rosto pequeno. Eu tava sumindo. Eu tinha medo de nunca mais voltar ao normal, de nunca mais voltar a ser eu, de nunca mais ter tempo pra mim.
Eu fiquei com tanto medo de não ter tempo pra mim, que quando eu tinha 5 minutos livres eu ia banhar. Quando Julia foi ficando mais tempo dormindo ou mais tempo com o pai dela, eu banhava toda hora. Até que Guilherme começou a reclamar que eu tava banhando de mais e eu percebi que, por medo de não ter tempo de banhar, eu tava banhando umas 6 vezes por dia. Aí eu chorava no banho.
Nunca vou esquecer quando Guilherme perguntou se eu amava minha filha. Ele tava com medo de ser depressão pós parto. Mas não era. Eu a amava incondicionalmente e era esse amor que me dava forças pra aguentar esses dias de tristeza. Mas o choro vinha, mesmo que eu não quisesse. E se tentasse controlar era pior. No fim das contas acho que é normal isso, afinal nosso corpo passou por tantas mudanças, tantas coisas em tão pouco tempo, nossos hormônios caindo bruscamente, tanta coisa nova acontecendo, normal é que não dava pra ficar. 
Esses "dias sombrios" foram necessários. Saí de vários grupos de whatsapp, me desliguei do celular um pouco, me desliguei do mundo. Esqueci dos outros problemas (contas pra pagar, casa pra limpar, etc) e foquei exclusivamente em mim e em Júlia. A gente ia passar por essa fase juntas e ela ia me dar a força necessária pra eu me recuperar. Foi a nossa hora de se conhecer, sem intervenção do mundo lá fora. Passamos 9 meses grudadas, mas pouco sabíamos uma da outra. Agora era a hora de nos olharmos nos olhos e tentar entender tudo que tinha acontecido até agora. 

A RECUPERAÇÃO

Aos poucos a dor nos seios foi passando, eu já não sentia mais os pontos da laceração, Júlia já dormia várias horas seguidas e eu conseguia ter tempo para quase tudo. Tive apoio das minhas amigas, da minha mãe e do meu esposo, e esse apoio é fundamental. Apoiar sem julgar. Pessoas que me entenderam e me permitiram sentir o que eu estava sentindo, sem me acusar de mal agradecida ou qualquer coisa do tipo. Isso foi fundamental! Se tem uma coisa que a gente não precisa é se sentir culpada durante o puerpério.
 A vida nunca vai voltar a ser como antes, ainda bem! Porque antes eu não tinha Júlia comigo e eu nem lembro mais como eu vivia sem a minha pequena <3  


Passei pelo puerpério e sobrevivi! kkkkkk É uma fasezinha bem punk, então é importante estar preparada e preparar as pessoas que estarão com você. Pesquise sobre puerpério, baby blues, depressão pós parto. É importante ter consciência de até onde a tristeza é normal e quando é necessária a ajuda profissional.

E para as que ainda vão passar por isso, uma dica: cole na sua mente o mantra "VAI PASSAR", porque vai, e depois é só alegria! (mentira, problemas sempre vão existir kkkkk mas nada se compara a essa fasezinha dark).

É isso!
Até mais!